3.24.2008

Dia da Caça

Encontrava-se microscópica aos seus próprios olhos.
Naquela noite de vermes mortos no corredor escuro, tudo ficara grande de ínfimos detalhes. Cheiro de voz muda - ela sentia.
Maria não tomava cuidado com seus próprios desejos, muito menos os media na hora de deseja-los. Como pudera ser ladina em sua intensidade, ela não entendia.
Quando o impulso é deveras vivo - necessário saber, também sobre a morte.
Advenças da vida levaram-na à ver de longe, ser de longe. à viver em cima mas à descer breve (a fome da vida; não era leve).
Maria tinha espírito de águia, olhos profundos de horizonte quando era do universo; atentos de sal quando era da terra.
Palavra, asfixiou-se em sua própria diligência. Soprava suas forças para encher os outros, queria agradar, mas sutilmente esvaziava-se de si mesma. Há alguns meses vem sentindo-se mal, dor de cabeça e enjôo - indisposição essa que a acompanha sempre em dias internos - deu-se conta que havia um buraco em seu corpo, o vazio no coração; era a ânsia de sentir-se. Não obstante, sentia uma imediata e estranha compaixão - prefirível dizer compaixão à pena, a primeira que chega de frente a outra, de baixo, mas frequentemente elas se cruzam no caminho - pelos homens e mulheres simples que conhecia. Isso tornava-a tão presente - a compaixão, não a pena, que por sua vez tornava-a impotente e alerta da injustiça no mundo, doia-lhe a alma. Esses momentos eram tão mais humanos quanto a maioria do resto de seu dia. Eram irmãos, todos, ela precisava cuidar deles. Era preciso adverti-los, era impreecindível diverti-los, e extremamente abençoado era senti-los e compreende-los. No íntimo ela queria, juntamente, ser compreendida sem ter de explicar-se. as palavras lhe eram tão trancadas, mas pareciam saltar pelos olhos. Por isso a simplicidade lhe era amiga, traduzia seus olhos como um dialeto conhecido. Se de tanto que se dava, era de se esperar de volta, esperava.

2 comentários:

Anônimo disse...

como amor de mãe, que dá tudo e não pode esperar nada em troca

o amor que não tem interesse por si, e sim por sua obra

o amor que quer ter filhos melhores e maiores que si mesmo, que quer retribuir à vida pela graça da insólita e breve presença

Anônimo disse...

pela fonte de inquietação que te move, Maria, que ela não te pare nunca, que nunca se entenda o que não é pra ser entendido, que olhe as injustiças e mesmo sabendo sua limitação e sua mortalidade saiba que o que o sol e máquina que te move é infinita, imortal, maior que você mesma.
e por tua leveza não espere.
e por teu espírito voe alto.