11.28.2008

Ciúme

" Se não viesse comigo, se fosse livre, eu teria imaginado e com razão todas aquelas mulheres como objetos possíveis, prováveis, do seu desejo, do seu prazer. Aparecer-me-iam todas como aquelas dançarinas que, num bailado diabólico, representando as Tentações para uma criatura, lançam as suas flechas ao coração de outra criatura. Midinettes, moças, atrizes, como eu as teria odiado! Objeto de horror, seriam excluídas por mim da beleza do universo. A servidão dele, permitindo-me não sofrer por causa delas, restituía-as à beleza do mundo. Inofensivas, privadas do aguilhão que põe no coração o ciúme, era-me consentido admirá-las, afagá-las com o olhar, em outro dia mais intimamente talvez. Prendendo ele comigo, restituíra eu ao universo todas aquelas asas cintilantes que zumbem nos passeios, nos bailes, nos teatros, e que voltavam a ser tentadoras para mim, porque já não podiam sucumbir à tentação. São elas que dão beleza ao mundo. Foram elas que em outro tempo, deram beleza à ele. "

M.P.

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